A RAIVA É RUIM?
Normalmente,
a raiva não é ruim. Normalmente, ela faz parte da vida natural; ela surge e vai
embora. Mas, se você a reprime, então
ela se torna um problema. Você começa a acumulá-la. Ela deixa simplesmente
de surgir e ir embora; torna-se o seu próprio ser. Não é que às vezes você
fique com raiva; você vive com raiva, vive em fúria, só à espera de alguém que
o provoque. Basta uma leve provocação e você se inflama e faz coisas das quais
mais tarde diz, “Eu estava fora de mim”.
Analise
essa expressão — “fora de mim”. Como você pode fazer algo enquanto está fora de
si mesmo? Mas a expressão está absolutamente correta. A raiva reprimida se torna uma loucura temporária. Às vezes ela
fica incontrolável. Se você pudesse controlá-la, faria isso, mas ela de repente
transbordou. De repente ela extravasou, você não conseguiu fazer nada, ficou
impotente — e ela aflorou. Uma pessoa assim pode não estar com raiva, mas ela
vive e se movimenta com raiva.
DOIS TIPOS DE PESSOAS
Se
você um dia já observou as pessoas... pare na calçada e só observe; você verá
dois tipos de pessoa. Continue observando o rosto delas. Toda a humanidade se
divide em dois tipos de pessoa. Um é o
tipo triste, que tem uma aparência muito triste, anda se arrastando por aí. O
outro é o tipo zangado, vive borbulhando de raiva, pronto para explodir por
causa de qualquer coisa.
A
raiva é a tristeza ativa; a tristeza é a raiva inativa. Elas não são duas coisas diferentes.
Observe
o seu próprio comportamento. Quando você fica triste? Você fica triste só em situações em que não pode ficar com raiva. O
seu chefe no escritório diz alguma coisa e você não pode ficar com raiva, pode
perder o emprego. Você não pode demonstrar raiva, tem de continuar sorrindo.
Então você fica triste. A energia se torna inativa.
RAIVA E TRISTEZA
O
marido sai do trabalho, vai para casa e, quando está com a esposa, encontra uma
pequena desculpa, algo sem importância, e fica com raiva. As pessoas gostam de
ter raiva, ela traz alívio, pois pelo menos elas sentem que estão fazendo
alguma coisa. Na tristeza, você sente que estão fazendo alguma coisa a você.
Você é a parte passiva, a parte receptiva. Fizeram-lhe algo e você estava
indefeso, não pode retrucar, não pode revidar, não pode reagir. Se tem raiva,
você se sente um pouco melhor. Depois de um grande acesso de raiva, você se
sente mais relaxado e isso traz bem-estar. Você está vivo! Você também pode
fazer coisas! Claro que você não pode fazer essas coisas ao chefe, mas pode
fazer com a sua esposa.
Então
a esposa espera os filhos chegarem em casa — porque não é muito sensato
descarregar a raiva no marido, ele pode se divorciar dela. Ele é o chefe e a
mulher depende dele e é arriscado se zangar com ele. Ela esperará pelos filhos.
Eles chegarão da escola e ela então saltará sobre eles e os castigará — para o
próprio bem deles. E o que os filhos farão? Eles irão para o quarto e atirarão
longe os livros, chorarão ou castigarão as bonecas, o; cachorros, ou torturarão
os gatos. Eles têm de fazer alguma coisa. Todo mundo tem de fazer alguma coisa,
do contrário fica triste.
As
pessoas que você vê na rua com uma aparência triste, que vivem tão tristes que
o rosto delas parece uma máscara de tristeza, são pessoas tão impotentes, que
estão num degrau tão baixo da escada, que não encontram ninguém com quem possam
ficar com raiva.
Essas
são as pessoas tristes, nos degraus mais altos você encontrará as pessoas com
raiva. Quanto mais alto você chega, mais raivosas são as pessoas que encontra.
Quanto mais baixo, mais tristes elas são.
Na
Índia, você verá que os intocáveis, a casta mais baixa, têm uma aparência
triste. Então olhe os brâmanes; eles são cheios de raiva. Um brâmane está
sempre com raiva; qualquer coisinha o tira do sério. Um intocável é
simplesmente triste, porque não há ninguém abaixo dele em quem possa
descarregar a raiva.
Raiva e tristeza são as duas faces da
mesma energia, reprimida.
A
raiva comum não tem nada de errado. Na verdade, as pessoas que conseguem ficar
com raiva e esquecer tudo no minuto seguinte são pessoas realmente muito boas.
Você sempre as achará amistosas, vibrantes, amorosas, compassivas.
Mas
aquelas que estão sempre reprimindo as emoções, controlando tudo, não são
pessoas boas. Elas estão sempre tentando mostrar que são mais virtuosas que
você, mas você pode ver raiva nos olhos delas. Você pode ver raiva no rosto
delas, em cada gesto que fazem — no jeito como andam, como falam, como se
relacionam com os outros, você pode vê-la sempre ali, borbulhando. Elas estão
sempre prontas para explodir. Esses são os assassinos, os criminosos, são os
verdadeiros malfeitores.
A
raiva é humana, não há nada de errado com ela. É simplesmente uma situação em
que você é provocado e, por estar vivo, você reage. Ela significa que você não
cederá, que essa não é uma situação que você possa aceitar; que essa é uma
situação em que você quer dizer não. Ela é um protesto e não há nada de errado
com ela.
Veja
uma criança quando ela está com raiva de você. Olhe o rosto dela! Ela está com
tanta raiva, tão vermelha, que gostaria de matar você. Ela diz, “Nunca mais vou
falar com você. Acabou!” e no minuto seguinte ela está sentada no seu colo,
conversando de um jeito encantador. Ela já esqueceu tudo. Qualquer coisa que
tenha dito no momento de fúria, não sente mais. Não se tornou uma bagagem na
mente dela.
Sim,
no ardor do momento, ela estava com raiva e disse algumas coisas, mas agora a
raiva passou e tudo o que ela disse não vale mais. Ela não ficará comprometida
com isso para sempre, foi um ataque momentâneo, uma ondinha na superfície da
água. Mas ela não ficou congelada naquele ataque, ela é um fenômeno fluido.
A
ondulação surgiu, uma onda se avolumou, mas agora não existe mais. Ela não vai
carregá-la para sempre. Mesmo que você a lembre, ela rirá e dirá, “Bobagem
minha!” Dirá, “Não me lembro. Eu disse isso?” Dirá, “Eu disse mesmo isso?
Impossível!” Foi só um acesso de raiva.
Isso
tem de ficar bem claro. A pessoa que vive de instante em instante às vezes fica
com raiva, às vezes fica feliz, às vezes fica triste. Mas você pode ter certeza
de que ela não carregará com ela essas emoções para sempre.
A
pessoa que é muito controlada e não deixa que nenhuma emoção aflore em seu ser
é perigosa. Se você a insulta, ela não fica zangada; ela se contém. Pouco a
pouco ela vai acumulando tanta raiva que acaba fazendo algo realmente maldoso.
Não
há nada de errado com um acesso momentâneo de raiva — num certo sentido, ele é
belo. Simplesmente mostra que você ainda está vivo. O acesso momentâneo
simplesmente mostra que você não está morto, que você responde às situações e
de maneira autêntica. Quando você sente que a situação exige que você fique com
raiva, ela irrompe. Quando sente que a situação requer felicidade, a felicidade
também irrompe. Você dança conforme a música, não tem preconceitos nem contra
nem a favor. Você não tem nenhuma ideologia.
Eu
não sou contra a raiva, eu sou contra raiva acumulada. Eu não sou contra o
sexo, sou contra sexualidade acumulada.
Qualquer
coisa surgida no momento é boa, qualquer coisa trazida do passado é ruim, é uma
doença.
Osho, em "Saúde Emocional:
Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa